quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Existência


As marcas, cicatrizes e manchas.
Os espaços vazios e os inchaços.
As fragilidades.
Os passos cuidadosos.
As ites, uma coleção delas.
As revoluções mentais: um borbulhar de pensamentos, sentimentos, ideias e ideais.
Aqui e ali um pequeno sonho, um "sonhozinho"
A mal/bem dita razão não a deixa esquecer  (em tempo algum)
Passou a se interessar pelo despercebido
Contempla o que para outros  é corriqueiro

terça-feira, 19 de setembro de 2017

Como é grande o meu amor por você

Eu tenho tanto para lhe falar,
Mas com palavras não sei dizer  la rá la lá lá....

Ao retornar do colégio ou de outros destinos que fazia com regularidade, cruzava a Vila dos Comerciários para alcançar a Rua São Vicente, situada no bairro da Tamarineira, meu endereço por 18 anos.

Em uma das vias cruzava sempre com um adolescente um pouco mais velho que eu, ele sempre acompanhado do seu melhor amigo, o violão.
Com um certo desconforto e timidez e talvez por não saber como falar comigo recebi por outras mãos de presente a letra de Como é grande o meu amor por você em uma caligrafia caprichada e devidamente cifrada para violão.

A balada de Roberto foi lançada em 1967 porém ainda tocava nos bailinhos da década de 1970, cuja letra fazia o papel de declarações de românticos apaixonados.

E assim tal qual   os versos de Cyrano de Bergerac declamado por Cristiano, as letras das canções auxiliava os Cristianos do bairro, mas pela timidez do que pela capacidade autoral.

Como nem tudo é como pensamos e tal qual a Quadrilha de Drummond, mais tarde cantada por Chico em Flor de Idade, as vezes as flechas das paixões ficam confusas e, meu coração adolescente descompassava por outro.

Os anos passaram, os adolescentes viraram jovens e cada qual fez suas escolhas. Alguns  resolveram fazer experimentações misturando substâncias para uso pessoal: pico, maconha, loló e álcool. Utilizados de forma furtiva ou abertamente infelizmente muito cedo alguns partiram.

Um domingo retornando da igreja que congregava , descendo na mesma parada de ônibus que ficava em frente ao Cine Coliseu que para minha tristeza anos depois o espaço virou um mercado, cruzando as ruelas da Vila dos Comerciários, encontro o jovem fumando um baseado, encostado em um carro e ao seu lado o violão.

Eu nunca me encantei por cigarros  de qualquer natureza, minha paixão sempre foi a celulose mas não aquelas que são utilizadas para bolar  mas as que são registadas e ilustradas  histórias e encantos, sempre viajo e experiencio diversas sensações através das páginas dos livro que leio.

- Flavinha tá vindo da igreja?
- Oi, tô sim, tudo bem?
- Se incomoda com o cigarro?
- Pode continuar fumando, tudo bem?
- Quero lhe perguntar algo.
- Diga.
- Dormiria com um homem sem casar?
- ???!???!???!??
- Isso que ouviu. Sabe você não é nenhuma modelo, sabe... Mas... Não sei... Eu acho...

Meu colega perdeu a timidez e não "arrodeou" como um pernambucano da época, foi direto na aorta.

Preferi no momento que ouvi a letra do Roberto Carlos, mesmo sabendo que não era todo o amor do mundo e muito menos maior do que o céu, o mar e a Terra.

Continuo não sendo a modelo (nunca fui ele tinha razão). Desengonçada e estabanada no meu Infinito Particular e hoje com sulcos, marcas e tonalidades adquiridas pelo tempo, lembro da caligrafia caprichada e das cifras cuidadosamente colocadas acima da sílaba certa, da expressão de carinho na letra da canção.

Depois enfim de tantas ilusões fanadas, sempre desfeitas, sempre renovadas o sentimento amoroso é meu companheiro da solidão. Da solidão diária de quem já não cria expectativas e que se refugia na música, na literatura e na natureza que preenchem um pouco as lacunas e ameniza cansaços e dore.

Referências a: Roberto Carlos, Chico Buarque, Carlos Drummond de Andrade, Marisa Monte, Cyrano de Bergerac, Farias Neves Sobrinho.

segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Bem-que-te-avisei

Bem-te-vi gorjeia ao  entardecer, despreocupadamente, pousado em um fio. 
Bem-te-vi.Bem-te-vi.

A mulher recostada esperando o transporte urbano, em seus devaneios vez ou outra escuta.
- Bem-que-te-avisei.
- Bem-que-te-avisei.

O bem-te-vi levanta voo, o ônibus chega, a mulher segue em seu intimo, replicando a cantinela.
- Te avisei, te avisei, te avisei!






Gargalhada

Gargalha,
do alto de sua magestade, 
Me observa e gargalha.
Ao longe, 
sou insignificante e impotente,
arqueada pelo tempo,
lampejos de memórias grudados nas marcas do corpo.
Saudades de fatos não vividos
Consequência da covardia,
Me calei.
Ouço a gargalhada,
me limito a observar.
Já não existe oportunidade, 
fiquei no passado.