quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

RESPIRO

Os tons laranja arroxeados dos fins de  tarde do cerrado
enchem de nostalgia e romantismo os olhos e a alma.
O espírito voa e paira sobre a cidade e seleciona o que observar.
O vôo, o gorjear e o bailado cortejante das aves, os animais folgando a primavera, a flora perfumada, colorida e verdejante, as músicas melodiosas, a reinação das crianças,
as declarações de amor: tanto as escancaradas como as veladas.
Um ruído interrompe o deslumbramento solitário.
A realidade retorna, o cotidiano necessário prossegue para sobreviver, continua só.



sexta-feira, 9 de novembro de 2018

ESPECTRO-SER

Sou um espectro que finge ser pessoa.
Envelhecida pela rudeza da vida.
Madrugadas mergulhadas em saudade.
As vezes as conexões com os humanos fica partida
Os contatos imediatos se rompem .
Fica os humanos estupefatos me observando sem entender minhas limitações.
E eu os miro e aceito sua condição não-saber.
Sou daquela categoria que morreu tantas vezes desde que sentiu o primeiro sopro de vida ao nascer.
Sou daquela categoria que carrega tantas marcas no corpo e na alma que perdeu a vontade de se comunicar.
Porque você está triste?
Desculpe, você não irá entender.
Siga.

sábado, 6 de outubro de 2018

TODO DIA

Todo dia ao abrir os olhos depois de um período de sono percebo que estou viva.
(Todo dia choro)

Todo dia que percebo que estou viva me pergunto: Por quê?
(Todo dia choro)

Todo dia procuro levantar e ter ânimo para os afazeres e vivências do cotidiano.
(Todo dia choro)

Todo dia ao longo do dia em algum momento as lágrimas escorrem.
(Todo dia choro)

Todo dia ao olhar no espelho percebo que a  cada dia me reconheço menos.
(Todo dia choro)

Todo dia reconheço em mim as o roxo e o inchaço das olheiras.
(Todo dia choro)

Todo dia procuro sorrir e não disseminar amargor e mágoa.
(Todo dia choro)

Todo dia procuro viver com pedaços que me faltam.
(Todo dia choro).

Todo dia ao final do dia, a noite ou na madrugada procuro me ocupar de levezas para não remoer histórias.
(Todo dia choro)

Todo dia convivo com os fantasmas de todos os infernos que visitei.
(Todo dia choro)

Todo dia leio notícias.
(Todo dia choro)

Todo dia sinto saudades.
(Todo dia choro)

Todo dia procuro dar significado  ao dia.
(Todo dia choro)

Os pequenos problemas do cotidiano já não me irritam.
Vou vivendo cada dia sem muita pressa.
Passei a preferir a solidão das minhas ocupações  a dialogar com amargos e raivosos seres, opto por degustar um sorvete sem crise de consciência e sem contar calorias.
(Todo dia choro)

Todo dia procuro reconhecer a Soberania, entretanto vez ou outra surge o questionamento: Por quê não eu?
(Todo dia choro)

segunda-feira, 4 de junho de 2018

Quanto tempo o tempo tem?

O tempo perguntou ao tempo quanto tempo o tempo tem, o Tempo respondeu ao tempo que o tempo tem tanto tempo quanto tempo, tempo tem.
Trava-línguas! O texto acima é um trava-línguas, uma espécie de jogo verbal que consiste em pronunciar o texto sem justamente travar a língua,uma das utilidades dos trava-línguas é aperfeiçoar a pronúncia.
Escolhi este em especial devido ao tema: Tempo.
Muitas pessoas já estudaram, leram, ouviram ou assistiram filmes e documentários sobre os gregos antigos e as palavras utilizadas pelos mesmos em relação à noção do tempo. Chronos para o tempo de natureza quantitativa e Kairós para o sentido  qualitativo do tempo, algo como o momento oportuno. Aion expressão de origem grega, menos conhecida, indica o tempo de longo prazo. Na Bíblia a biblioteca que comumente é conhecida como o livro sagrado para os cristãos, as noções de tempo gregas aparecem nos livros do novo Testamento ressignificadas e atreladas ao tempo dos homens e ao tempo de D-us.
A palavra tempo me faz lembrar a a minha voinha materna, em forma de cantinela um trecho do livro de Eclesiastes, da Bíblia também, do Velho Testamento: Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu (Ec. 3:1), chegavam aos meus ouvidos.
Mas... Quanto tempo o tempo tem? O tempo tem tanto tempo quanto tempo, tempo tem.
Bingo!
Sabem, cada pessoa lida com um sentimento, um fato, um acontecimento no seu tempo. Apesar de já terem medido o tempo para tudo até para o quanto devem durar os sentimentos mais profundos.
Hoje é 4 de junho, seis meses que meu filho mais velho Moshe Dayan morreu, um ano e meio que minha neta Ashira Ariel filha dele também morreu; 45 anos 4 meses e meio que meu voinho materno João morreu. Eu poderia ampliar esta lista para afirmar de forma contundente que sinto sim a falta de pessoas queridas que marcaram minha vida. Acontecimentos também podem funcionar como trava-vidas ou destrava-vidas, ou avaliar-vidas, as nossas.
Eu estava com 9 anos e alguns meses de idade quando João meu avô morreu, morava na casa dos meus avós, uma criança no meio de adultos, um bibelô.
A morte do meu avô foi um tempo de avaliar-vidas, e eu fiquei pensando: "E se todos morrerem?", de um bibelô passei a me construir ao longo da vida e aprender sempre que necessário, aprender e fazer, viver, sobreviver.
Quando escrevo sobre a morte de meu filho, escrevo porque preciso.
Como a maioria das pessoas não sabem de sutilezas, de detalhes do que ocorreu e das dificuldades inclusive burocráticas que enfrentamos nos pós-morte, e, que é diferente para cada caso, imaginam talvez que tudo seja bem mais simples.
Lembro certa vez de visitar uma amiga que perdeu sua filha em uma acidente, uma fatalidade. Minha amiga me perguntou se eu tinha respostas para ela. O que posso falar para uma mãe que perdeu sua filha querida? O que posso fazer a não ser abraçá-la e emprestar o meu ombro? - Não tenho respostas para você.
Resolvi deixar de pintar meus cabelos e lentamente eles estão ficando brancos, não tenho vontade de pintá-los e não tenho vontade de pintar as unhas e isso faz parte do meu momento, do meu tempo, do meu transpassar.
Ao mesmo tempo conto histórias, causos e piadas , sorrio.
Se eu acredito no Eterno? Sim eu acredito! Talvez a minha manifestação da fé seja diferente da sua!
E que na labuta do Chronos tenhamos espaço para sermos ombros, para abraçarmos as pessoas, vocês nem imaginam como um afeto é melhor do que algumas palavras.


quinta-feira, 31 de maio de 2018

CONFESSO




Confesso, já escrevi seu nome na areia e as ondas apagaram,
não lembro em que mês e em que ano, afirmo escrevi!
Fui sozinha à praia e tal uma criança fui rabiscando a areia e depois olhei as espumas lambê-las.
Lembrei da música "Quatro semanas de amor" (música errada),  a música certa seria "Xote dos milagres".
Confesso,  já escrevi poemas! 
Um monte de palavras mal conectadas e sem a beleza dos textos que apenas os poetas possuem o domínio.
Confesso já ouvi músicas!
Ouvi músicas e na minha cabeça nonsense imaginei que estávamos dançando.
Confesso, mudei!
Hoje, hoje quando vou ao Mar deixo ele ser o meu remédio.
Respeitando a  imensidão e o volume da  água, sua força e sua serenidade, 
as vezes  o contemplo, as vezes me banho.
Deixo por lá parte das minhas dores.
Já não existem festas imaginárias.
Mais racional, menos utópica.
Só não deixo de escrever, até que a morte me separe.



domingo, 22 de abril de 2018

Meu Mar

Meu Mar

Bendita seja a água morna do meu mar
mergulho e as águas salgadas se misturam,
fico na água até a pele ficar mais encarquilhada do que já está
gosto muito de ir sozinha,
ao meu redor as pessoas vivem seus momentos especiais em seus mundos particulares,
o olhar anda opaco, a pele sem viço,
vaidades virou realmente sinônimo de futilidades.
Bendita seja a água do meu mar,
mergulho e as águas salgadas se misturam e as pessoas interagem em seus grupos presenciais e virtuais.
Bendita seja a água do meu mar no qual as águas salgadas se misturam e que eu não preciso ficar dando explicações
para ninguém,
Bendita seja a água do meu mar no qual as águas salgadas se misturam e que eu alivio minha aflição
É a água salgada que adocica minha existência.