segunda-feira, 4 de junho de 2018

Quanto tempo o tempo tem?

O tempo perguntou ao tempo quanto tempo o tempo tem, o Tempo respondeu ao tempo que o tempo tem tanto tempo quanto tempo, tempo tem.
Trava-línguas! O texto acima é um trava-línguas, uma espécie de jogo verbal que consiste em pronunciar o texto sem justamente travar a língua,uma das utilidades dos trava-línguas é aperfeiçoar a pronúncia.
Escolhi este em especial devido ao tema: Tempo.
Muitas pessoas já estudaram, leram, ouviram ou assistiram filmes e documentários sobre os gregos antigos e as palavras utilizadas pelos mesmos em relação à noção do tempo. Chronos para o tempo de natureza quantitativa e Kairós para o sentido  qualitativo do tempo, algo como o momento oportuno. Aion expressão de origem grega, menos conhecida, indica o tempo de longo prazo. Na Bíblia a biblioteca que comumente é conhecida como o livro sagrado para os cristãos, as noções de tempo gregas aparecem nos livros do novo Testamento ressignificadas e atreladas ao tempo dos homens e ao tempo de D-us.
A palavra tempo me faz lembrar a a minha voinha materna, em forma de cantinela um trecho do livro de Eclesiastes, da Bíblia também, do Velho Testamento: Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu (Ec. 3:1), chegavam aos meus ouvidos.
Mas... Quanto tempo o tempo tem? O tempo tem tanto tempo quanto tempo, tempo tem.
Bingo!
Sabem, cada pessoa lida com um sentimento, um fato, um acontecimento no seu tempo. Apesar de já terem medido o tempo para tudo até para o quanto devem durar os sentimentos mais profundos.
Hoje é 4 de junho, seis meses que meu filho mais velho Moshe Dayan morreu, um ano e meio que minha neta Ashira Ariel filha dele também morreu; 45 anos 4 meses e meio que meu voinho materno João morreu. Eu poderia ampliar esta lista para afirmar de forma contundente que sinto sim a falta de pessoas queridas que marcaram minha vida. Acontecimentos também podem funcionar como trava-vidas ou destrava-vidas, ou avaliar-vidas, as nossas.
Eu estava com 9 anos e alguns meses de idade quando João meu avô morreu, morava na casa dos meus avós, uma criança no meio de adultos, um bibelô.
A morte do meu avô foi um tempo de avaliar-vidas, e eu fiquei pensando: "E se todos morrerem?", de um bibelô passei a me construir ao longo da vida e aprender sempre que necessário, aprender e fazer, viver, sobreviver.
Quando escrevo sobre a morte de meu filho, escrevo porque preciso.
Como a maioria das pessoas não sabem de sutilezas, de detalhes do que ocorreu e das dificuldades inclusive burocráticas que enfrentamos nos pós-morte, e, que é diferente para cada caso, imaginam talvez que tudo seja bem mais simples.
Lembro certa vez de visitar uma amiga que perdeu sua filha em uma acidente, uma fatalidade. Minha amiga me perguntou se eu tinha respostas para ela. O que posso falar para uma mãe que perdeu sua filha querida? O que posso fazer a não ser abraçá-la e emprestar o meu ombro? - Não tenho respostas para você.
Resolvi deixar de pintar meus cabelos e lentamente eles estão ficando brancos, não tenho vontade de pintá-los e não tenho vontade de pintar as unhas e isso faz parte do meu momento, do meu tempo, do meu transpassar.
Ao mesmo tempo conto histórias, causos e piadas , sorrio.
Se eu acredito no Eterno? Sim eu acredito! Talvez a minha manifestação da fé seja diferente da sua!
E que na labuta do Chronos tenhamos espaço para sermos ombros, para abraçarmos as pessoas, vocês nem imaginam como um afeto é melhor do que algumas palavras.