quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

A escolha de um dia bom

Havia trabalhado o dia inteiro.
Já  era madrugada quando  Mônica se sentou para descansar um pouco.
Olhou pra os pés que estavam calçados com uma sandália de dedo e passou a observá-los. Estranhamente Mônica passou admirá-los.
- São até harmoniosos! Pensou a mulher.
Ficou  vários minutos naquela posição, observando os pés e pensando em sua vida.
Já adulta, em muitas ocasiões Mônica se enxergava menina e agia como tal.
Lembrou que cerca de três meses atrás algumas pessoas amigas lhe disseram:
 - Mônica, você tem um coração doce.
Intrigada com a afirmação, ela se atreveu e tomou coragem e perguntou a uma das pessoas.
- O que significa ser uma pessoa de coração doce?
- Com tudo que te acontece, você continua com um coração doce, um coração grande, que abraça as pessoas e procura ajudar. Seu olhar é cativante de uma pessoa amiga, um coração doce que procura não guardar mágoas.
Mônica agradeceu a resposta e depois ficou matutando, ser doce seria positivo ou negativo?
Olhando para os pés e pensando na resposta da indagação e dos últimos acontecimentos que lhe ocorreram, ela não estava apenas das tarefas daquele dia, mas estava cansada da vida.
Nos últimos anos sentia-se impotente e cética em relação a muitos temas.
Resolveu se banhar.  Com o chuveiro já ligado e água e espuma deslizando pelo corpo abatido, os pensamentos continuaram. Nunca se enxergou esteticamente bonita, o que lhe sobressaltava aos olhos era o que ela não gostava, algumas vezes, se olhava e penava hoje parece estar bem.
Inúmeras vezes, colegas, amigos e familiares lhe falavam:
- Mônica você é forte!
Frágil como uma folha de papel de arroz, lutando com suas dúvidas, medos, ansiedades, monstros e fantasmas, a mulher sorria e agradecia os elogios, na pseudo-segurança dos muros que cresciam dentro dela, tinha consciência que apenas era alguém que procurava viver.
Gostava das artes em geral, apesar de não ser competente em nenhuma delas, apreciava todas quando podia.
Os pensamentos de Mônica divagaram por leituras  realizadas sobre mitos e folclores de várias culturas. Educada a não acreditar em nenhuma destas histórias, porque não seria sensato crer em bruxas, vampiros, lobisomens, boitatás, fadas, duendes, Teseu, Perseu, magos e demais criaturas e histórias semelhantes... Ultimamente ela refletia de forma diferente.
- Estas histórias, personagens e criaturas representam os sentimentos e relações humanas, todos eles, dos mais belos, aos mais cruéis, dos mais sórdidos aos mais puros.  Todas as pessoas trazem em si contradições, presença de luz e de escuridão.
Resolveu ir deitar. Ao perceber no dia seguinte que a vida ainda estava presente, se levantou para mais um dia de enfrentamento e uma possibilidade infinita de escolhas.
E como existem tesouros preciosos para a mulher, na figura de amigos que ainda preferem a utilização de pouquíssimas máscaras, a mulher foi ao encontro destes para passar um dia agradável. Ela sabe que a vida é um sopro, sabe que não há como ter certeza da quantidade de dias, acredita que a vida deva ser alegre, que a vida deve ser intensa, mas, sobretudo acredita que a vida deve ser compartilhada com inteireza e sinceridade e foi abraçar pessoas amadas.
E o dia foi bom. 

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